A Verdadeira e a Falsa Adoração



A VERDADEIRA ADORAÇÃO E SEU PREÇO INCALCULÁVEL
Então Maria pegou um frasco de nardo puro, que era um perfume caro, derramou-o sobre os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos. E a casa encheu-se com a fragrância do perfume” (Jo 12.3 - NVI).
           
João não exagerou quando disse que o perfume era muito caro.

“A julgar pela parábola dos trabalhadores na vinha, em Mateus, onde diaristas são contratados por um denário por dia, 300 denários manteriam em nível de sobrevivência um operário e sua família durante um ano (não receberiam pagamento, naturalmente, em sábados e feriados)”[1].

            Maria desperdiçou, investiu, ou simplesmente ofereceu um perfume de tal valor a Jesus? O coração de um verdadeiro adorador saberá a resposta certa.
            Em Betânea, Maria nos constrange com sua profunda demonstração de amor ao Senhor. Sinceramente, lendo este texto, fico querendo saber até onde realmente vai o meu amor por Deus.
            Jesus, em resposta ao questionamento mal-intencionado de Judas, relacionou a atitude de Maria com Sua morte e sepultamento. Além do caráter profético de Suas palavras, de certa forma Jesus estava dizendo que enquanto outros esperariam a morte de Jesus para gastar com liberalidade embalsamando seu corpo, ela quis honrá-lo em vida. Muita gente vive esquecida e abandonada durante muitos anos, mas quando estão no caixão, os parentes aparecem com flores nas mãos e até com lágrimas nos olhos. Pergunto: que tipo de amor é esse?

Davi se recusou a oferecer a Deus, sacrifício que não lhe custasse nada (2 Sm 24.24). O mesmo Davi dizia que o Senhor era para ele o seu maior valor “... Tu és o meu Senhor; não tenho outro bem além de ti” (Sl 16.2). O que para muitos é desperdício, para um adorador é ainda pouco para demonstrar todo o seu amor pelo Mestre.

A PUREZA DA VERDADEIRA ADORAÇÃO
Qual interesse Maria poderia ter com aquela atitude? Ela era uma mulher. Jesus não tinha qualquer relação com Roma nem com os fariseus, portanto, politicamente ela não tinha qualquer esperança de receber alguma posição de destaque em troca de sua atitude. É muito claro, para qualquer leitor, que o único interesse de Maria era adorar ao Senhor Jesus por causa do grande amor que tinha por Ele.
Esta é a verdadeira adoração. Ela não tem segundas intenções, nem esperança de retribuição. Ela se recusa a aceitar o discurso da teologia da prosperidade. Adoração não é semente que germina benefícios e bênçãos para o semeador. Jesus não devolveu a Maria, cem vezes mais do que o valor que ela “investiu” em Jesus. Qualquer homem dinheirista e sem temor de Deus diria que ela desperdiçou dinheiro aos pés de Jesus. Ora, Deus não é banco e nem tampouco supermercado. Deus é simplesmente digno de receber toda honra, glória, riqueza, louvor e adoração. O adorador sabe disso, e não mede esforços nem recursos para adorar ao Senhor que o amou e o salvou com infinita graça e misericórdia.
A adoração não é semente, pelo contrário, é fruto. Uma vez que a semente do evangelho germina no coração de alguém (Mt 13.23), ela produz amor e adoração, e é nesse espírito que o verdadeiro discípulo de Jesus frutifica no Reino de Deus, vivendo e pregando o evangelho de Cristo. O louvor é fruto dos lábios que confessam a Deus (Hb 13.5). Uma vez que confessamos a fé no Filho de Deus como nosso Senhor e Salvador, a salvação que recebemos traz consigo o poder regenerador do Espírito Santo. O Senhor começa a criar em nós um coração cheio de amor e gratidão. Ou seja, a adoração não é uma moeda de troca ou uma forma de receber, mas é a reação de quem já recebeu o presente maior, a vida eterna. O amor de Deus é a fonte da nossa adoração!

O CORAÇÃO DE UM ADORADOR    
            Maria foi aos pés de Jesus para ungi-los e secá-los com seus cabelos. Uma atitude que certamente causou estranheza aos demais presentes. Há uma certa extravagância aqui. Apesar de saber que seria julgada, Maria não se importou, e prostrou-se aos pés do Senhor.
            Encontramos no hebraico alguns sentidos para a palavra adoração. O primeiro deles é pelah: “servir, adorar, reverenciar, ministrar”. Temos também a palavra “abîdâ”: “serviço, trabalho, ritual, adoração”, e ainda sãgad: “protrar-se em adoração”[2].
            A adoração desvincula-se da música. Enquanto que o louvor preserva laços discretos com a música, a adoração nos desvia deste foco e nos leva para uma atitude do coração, embora saibamos que é perfeitamente possível adorar cantando – e este é o alvo do louvor congregacional.
            O coração do homem, especialmente na concepção dos antigos hebreus, fala de “todo o ser” na sua dimensão interior, e não apenas de seus sentimentos. Um ato de adoração na verdade é um ato do coração. Um adorador pode, perfeitamente, estar de pé enquanto adora a Deus, mas seu coração deve estar prostrado diante do Senhor. Adoração é rendição, entrega e consagração apaixonada e integral ao Senhor. Ela ultrapassa a dimensão das atitudes e gestos e abraça toda a perspectiva de uma vida em sua plenitude. 

A FALSA ADORAÇÃO
Mas Judas Iscariotes, o discípulo que ia trair Jesus, disse:
_ Este perfume vale mais de trezentas moedas de prata. Por que não foi vendido, e o dinheiro, dado aos pobres?” (Jo 12.4-5 - NTLH).

Quando Jesus afirmou que o Pai procura verdadeiros adoradores, ficou evidentemente subentendido que existem os falsos adoradores.
O homem de Gadara, possuído por uma legião de demônios, ao ver de longe Jesus adentrando na província dos gadarenos, “correu e adorou-o. E, clamando com grande voz, disse: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes” (Mc 5.6-7). Esta narrativa suscita a seguinte pergunta: Quem adorou ao Senhor Jesus, o homem ou os demônios que nele estavam?
Na minha forma de ler o texto, entendo que foram os próprios demônios que adoraram a Jesus. Por quê? Encontramos a resposta quando observamos que Jesus foi identificado muito rapidamente como “o Filho do Deus altíssimo”, pois Ele ainda estava longe quando o gadareno pronunciou este reconhecimento da divindade do nazareno. Acertadamente, alguém disse que hoje é difícil reconhecer que Jesus era homem, e é bem verdade que para os contemporâneos de Jesus o difícil era reconhecê-lo como Deus. Até mesmo os discípulos mais próximos de Jesus tinham dificuldade de reconhecer quem realmente era Jesus, freqüentemente vacilavam entre a fé e a incredulidade. Os homens têm dificuldade de identificar Jesus, em contrapartida, como disse Tiago, os demônios crêem e tremem (Tg 2.19). Por estas razões, creio que não foi o homem quem adorou a Jesus, mas sim os demônios.
Porém, obviamente, esta não foi uma adoração agradável ao Senhor. O interesse dos demônios era convencer Jesus a não expulsá-los. Toda e qualquer forma de adoração que seja mal-intencionada e interesseira será classificada como falsa adoração. A verdadeira adoração daquele homem aconteceu somente depois de sua libertação, quando ele decidiu ficar aos pés de Jesus, e posteriormente quis seguir a Jesus como um de seus discípulos. Se alguém decide ficar na presença de Deus e consagrar-lhe a vida para servi-lo, este alguém está demonstrando o caráter e as implicações da verdadeira adoração.
Não pense o leitor que, dentro da igreja, no momento do culto, onde sabemos que o Senhor se faz presente (Mt 18.20), não haverá falsa adoração. Jesus estava presente em Betânea, na mesma casa onde também estavam Judas e Maria. Se fizermos a leitura deste texto (Jo 12.1-8) olhando para Maria identificaremos a verdadeira adoração. Mas se olharmos para Judas encontraremos a falsa adoração. Sim, os verdadeiros e os falsos adoradores podem perfeitamente dividir o mesmo espaço físico. É possível que alguém cante os louvores congregacionais de mãos levantadas e até mesmo derrame lágrimas, e mesmo assim estar apenas representando e, assim, oferecendo uma falsa adoração ao Senhor – como se Deus pudesse ser enganado. Porém, não nos esqueçamos que, em um caso como este, não temos o menor direito de abordar a pessoa e acusá-la de falsa adoração. Basta que a deixemos condenar a si mesma perante o Senhor que sonda os corações e sabe discernir todas as mais profundas e secretas intenções (Sl 139; Hb 4.12). O juízo deve permanecer exclusivamente nas mãos de Deus. O próprio Jesus fez assim. Sabia quem realmente era Judas, mas o deixou livre para escolher seu próprio destino. Jesus não lhe destituiu do cargo de tesoureiro do grupo, nem deixou de lhe servir a ceia. Judas condenou a si mesmo.
  
A BANALIDADE DA FALSA ADORAÇÃO
Algum leitor desatento e desavisado poderia imaginar que a sugestão de Judas era das mais louváveis e dignas de um cristão. Vender um perfume caríssimo e distribuir o dinheiro aos pobres não é uma atitude ruim, pelo contrário, é uma ótima iniciativa e um verdadeiro ato de adoração. Mas, muito facilmente, palavras e aparências enganam. E para ter certeza de que ninguém seria enganado pela sugestão de Judas, o evangelista João fez questão de nos informar que “Judas disse isso, não por que tivesse pena dos pobres, mas porque era ladrão. Ele tomava conta da bolsa de dinheiro e costumava tirar do que punham nela - NTLH” (Jo 12.6). Em outras palavras, o traidor não se importava com os pobres, mas sim com o seu bolso.

O CONTRASTE ENTRE A FALSA E A VERDADEIRA ADORAÇÃO
Indubitavelmente, estamos diante de um contraste gritante. Enquanto Maria derramou liberalmente um valor superior a trezentas moedas de prata aos pés de Jesus só para adorá-lo e honrá-lo, Judas O vendeu por trinta moedas de prata. Para Maria, Jesus valia muito mais do que trezentas moedas de prata, e todo esse valor ainda era pouco para expressar o amor que ela tinha por Jesus. Para Judas, trinta moedas era o suficiente para entregar Jesus aos principais dos sacerdotes, para que estes, em complô com os romanos, pudessem matá-lo. Verdadeiramente, há um oceano de diferenças entre o falso e o verdadeiro adorador.

A todos, abraços e Paz!!



[1] BRUCE; F.F.; João, Introdução e comentário; Série Cultura Bíblica; Vida Nova; p.221; São Paulo, SP.
[2] HARRIS, R Laird organizador; Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento; tradução Márcio Loureiro Redondo, Luiz Alberto T. Sayão, Carlos Osvaldo C. Pinto; p.1725; p.1717; p.1027; Vida Nova; São Paulo, 1998.


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